Futuro da defesa marinha: Austrália e EUA revelam novos drones submarinos

15 maio 2024 - Brasil - Mundo

Parece o enredo de um futuro filme da Marvel, mas na verdade, é o que poderia ser o futuro das defesas navais do Pacífico.

Ghost Shark e Manta Ray são os nomes de protótipos de veículos submarinos não tripulados – UUVs ou drones – introduzidos recentemente pela Austrália e pelos Estados Unidos, respectivamente.

Especialistas dizem que os submersíveis podem representar o futuro da guerra submarina, mostrando a capacidade de exercer poder enquanto minimizam o perigo para a vida humana.

O uso de drones na guerra aérea tornou-se comum. Os EUA os usaram extensivamente durante os conflitos no Iraque e no Afeganistão a partir da década de 1990, e os drones mais novos e mais baratos se tornaram peças-chave de hardware militar para ambos os lados na invasão da Ucrânia pela Rússia.

Kiev também construiu drones navais de superfície, que causaram grandes perdas aos navios muito maiores e mais caros da Frota do Mar Negro da Rússia.

Drones aéreos e marítimos de superfície podem ser controlados usando satélites e ondas de luz e rádio. Mas estes não funcionam da mesma forma nas profundezas.

Um estudo de 2023 publicado na revista suíça Sensors destaca que as comunicações subaquáticas requerem mais energia, mas ainda sofrem perda significativa de dados devido a variáveis como temperatura da água, salinidade e profundidade.

Fabricantes da nova geração de drones militares não estão dizendo como eles superariam os problemas de comunicação.

Mas quando a Austrália revelou o Ghost Shark no mês passado, chamou os protótipos de “os veículos autônomos submarinos mais avançados do mundo.”

“O Ghost Shark fornecerá à Marinha uma capacidade de se tornar invisível em uma guerra submarina autônoma de longo alcance, que pode conduzir inteligência persistente, vigilância, reconhecimento (ISR) e ataque”, disse um comunicado do Ministério da Defesa australiano, acrescentando que espera que os primeiros modelos de produção sejam entregues até o final do próximo ano.

Autoridades australianas e do fabricante Anduril Australia disseram que não poderiam compartilhar nenhuma das especificações do Ghost Shark, pois estas permanecem confidenciais.

Eles também destacaram a velocidade com que o protótipo passou de uma ideia até o início dos testes, em período de apenas dois anos.

“Estar à frente do cronograma, dentro do orçamento, é algo inédito”, disse Shane Arnott, vice-presidente sênior de engenharia de Anduril, a repórteres.

“Entregar o primeiro protótipo do Ghost Shark antes do previsto estabelece um novo padrão para o desenvolvimento de capacidades na velocidade da necessidade”, disse a cientista-chefe de defesa da Austrália, Tanya Monro, em um comunicado.

Emma Salisbury, uma colega do Conselho Britânico de Geoestratégia, disse que o Ghost Shark parece muito com o Orca, um drone extra grande, atualmente sendo desenvolvido nos EUA.

“Eu suponho que todos eles são destinados a conjuntos de missões aproximadamente semelhantes – inteligência persistente, vigilância, reconhecimento e capacidade de ataque, particularmente no domínio antissubmarino”, disse Salisbury.

A Marinha dos EUA chamou o drone Orca, construído pela Boeing, de “um submarino autônomo não tripulado a diesel, com uma seção de carga modular para executar uma variedade de missões”, em um comunicado de dezembro sobre a entrega de uma primeira plataforma de teste Orca, um protótipo inicial.

Ter uma carga útil modular significa que, teoricamente, o Orca poderia transportar diferentes variedades de armas dependendo da tarefa, ou ser equipado com equipamentos especializados para reconhecimento ou possivelmente coleta de inteligência.

O comunicado disse que o Pentágono iria adquir mais cinco drones, sem dizer quando. Mas o Orca dos EUA está em desenvolvimento há mais de uma década, disse o comunicado da Marinha, um contraste acentuado com a velocidade com que a Austrália desenvolveu o Ghost Shark.

Chris Brose, diretor de estratégia da Anduril, disse que a empresa e a Austrália estão no “processo de provar” que “esses tipos de capacidades podem ser construídas muito mais rapidamente, com custo muio menor e de forma mais inteligente.”

A Anduril Australia disse que o Ghost Shark, totalmente desenvolvido domesticamente, seria disponibilizado para exportação depois que se juntasse à frota naval australiana.

Enquanto isso, de volta ao Pacífico, o Orca não é o único drone sendo desenvolvido nos EUA.

A produção mais recente de drone dos Estados Unidos é o Manta Ray da Northrop Grumman, um protótipo que testado no sul da Califórnia em fevereiro e março.

A Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA), o ramo do Pentágono responsável pelo desenvolvimento de novas tecnologias, afirma que a força do Manta Ray está em sua modularidade, na capacidade de trocar as cargas úteis dependendo da missão.

Ele pode ser desmontado e colocado em cinco contêineres de transporte padrão, ser levado para onde será implantado, e remontado no campo, de acordo com a Northrop Grumman.

O protótipo foi construído em Maryland e depois remontado na costa da Califórnia.

“A combinação de transporte modular intercontinental, montagem no campo e subsequente implantação demonstra uma capacidade única para um droen extra grande”, disse Kyle Woerner, que lidera o programa Manta Ray na DARPA, em um comunicado de imprensa da agência.

Ele também observou que o método de transporte modular significa que o Manta Ray pode economizar energia interna para sua missão, em vez de usá-la para chegar ao local de implantação.

Como a Orca, o Manta Ray não se concretizou tão rápido quanto o Ghost Shark. Seu programa começou em 2020 e a DARPA não estabeleceu um objetivo para que o Manta Ray – ou alguma variante dele – se juntasse à frota dos EUA.

“A DARPA está colaborando com a Marinha dos EUA nos próximos passos para testar e fazer a transição dessa tecnologia”, disse o comunicado da agência.

Enquanto isso, a China, nomeada pelos militares americanos como uma “ameaça de ritmo” aos Estados Unidos no Pacífico, também está fazendo avanços em drones, disse Salisbury.

“Embora os detalhes sejam escassos, como acontece com a maioria das capacidades chinesas, eles os desenvolvem há pelo menos 15 anos e provavelmente agora têm algo semelhante ao Orca (mas com torpedos) na fase de testes”, afirmou.

O especialista em submarinos H I Sutton diz em seu site Covert Shores que, de acordo com uma análise de inteligência de fontes aberta, acredita-se que Pequim tenha pelo menos seis drones extra grandes em desenvolvimento.

Além da Austrália, EUA e China, outros países que trabalham com drones incluem Canadá, França, Índia, Irã, Israel, Coreia do Norte, Noruega, Rússia, Coreia do Sul, Ucrânia e Reino Unido, de acordo com Sutton.